Entrevista: Alto desempenho sem estresse. É possível?

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Cobranças, rankings, notas, classificações, alto nível de exigência das escolas e pais. Diante desse cenário, é difícil pensar em jovens com qualidade de vida, boa autoestima e brilho nos olhos. A boa notícia é que essa fase do Ensino Médio não precisa ser tão dura assim. É preciso compreender que uma escola excelente não precisa estar associada a sobrecarga nos estudos e estresse elevado.

Conversamos com o professor André Guadalupe, um apaixonado e especialista em Educação, com mais de 25 anos de experiência na Educação Básica.

Revista Urbanova: Vamos direto ao ponto. É possível ter alto desempenho na formação escolar, sem estresse?

André Guadalupe: O alto desempenho no Ensino Médio não está associado a passar horas e horas estudando, dormir mal, abrir mão de amigos, família, esporte, lazer, religiosidade ou seus hobbys. O Alto desempenho é alcançado quando se busca um equilíbrio entre tudo isso. O alto desempenho é do aluno como um todo e não, necessariamente, de suas notas. A busca por este equilíbrio não é simples, mas é papel do Colégio, principalmente no Ensino Médio, ajudar os alunos na organização do seu tempo contemplando uma carga de estudo adequada aos seus sonhos e desejos.

Revista Urbanova: Em sua ampla experiência profissional, onde inclusive visitou escolas no Japão, Finlândia, Inglaterra, Estados Unidos, perguntamos: quais aspectos dos modelos tradicionais de ensino devem ser definitivamente deixados de lado?

André Guadalupe: Realmente tive a oportunidade de visitar, nestes 25 anos dedicados a educação, centenas de escolas no Brasil e no exterior e alguns aspectos tem correlação direta com o aprendizado dos alunos. Em primeiro lugar posso destacar o investimento na formação e transformação de seus professores, com isso vem o protagonismo dos alunos em sala de aula e em todos os ambientes do Colégio. Não há como fazer isso em salas de aula ou escolas com grande número de alunos. O aluno precisa ser conhecido por todos e seja tratado de forma exclusiva. Cada aluno é único e tem suas fortalezas e fragilidades e é responsabilidade do Colégio e dos educadores ampliar estas fortalezas e minimizar com muito carinho suas fragilidades. Um aspecto que promove grande estresse e a classificação das salas por notas. Esse critério privilegia apenas uma inteligência cognitiva média e não leva em consideração a oralidade, a inteligência emocional, a capacidade de trabalhar em grupo e a inteligência criativa etc, habilidades estas, extremamente importantes para a formação do jovem.

Revista Urbanova: Por que o Ensino Médio não deve focar apenas no Vestibular?

André Guadalupe: Reduzir o Ensino Médio aos conteúdos dos vestibulares é reduzir demais a importância e o papel do Colégio. O Ensino Médio é muito mais que isso. É a última oportunidade do aluno em ter contato com diferentes disciplinas e conteúdos em sua formação básica. A nova BNCC – Base Nacional comum Curricular que venho estudando e colaborando a alguns anos vem justamente ao encontro de permitir ao aluno se dedicar aos conteúdos que mais tem afinidade, eleger projetos que lhe façam sentido e ter um aprendizado mais significativo. O vestibular faz parte da vida do jovem e o Ensino Médio deve ser capaz de finalizar sua preparação para os mais importantes exames do Brasil, a aprovação no vestibular deve ser resultado de um aprendizado significativo. Além do mais, está cada vez mais frequente alunos aplicarem para universidades fora do Brasil e as habilidades e competências necessárias para estas aplicações passam por domínio de idiomas, trabalho voluntário e alta proficiência específicas nas áreas desejadas.

Revista Urbanova: O senhor acredita que a prova descritiva é a melhor maneira de avaliação dos alunos?

André Guadalupe: A avaliação da aprendizagem é sempre um enorme desafio. Acredito em múltiplas formas de avaliação: avaliação escrita descritiva e em formato de múltipla escolha, avaliação oral, avaliação por apresentação de projetos, seminários, palestras, games, construção de maquetes e modelos etc. O importante é realmente investigar a aprendizagem significativa. Muitas vezes vemos um aluno ficar “paralisado” diante de uma prova descritiva, mas se sair muito bem em uma avaliação oral. Devemos nos preocupar muito com a autoestima dos alunos que nesta idade é ainda mais crucial para a felicidade e bem estar. Depois que ele percebe que aprendeu ele se sente mais a vontade para fazer as provas tradicionais. É muito triste o aluno por não conseguir ir bem em uma prova, depois de ter estudado muito, desistir da matéria e se auto rotular de incapaz. Temos que evitar isso ao máximo.

Revista Urbanova: Qual o papel dos colégios no aspecto emocional dos alunos?

André Guadalupe: O aluno muitas vezes passa mais tempo na escola do que casa (sem considerar o sono, é claro) e é nesse aspecto que um ambiente saudável, empático, onde o aluno se sente bem é absolutamente importante para o aprendizado efetivo e para seu equilíbrio emocional. O papel do Colégio é fomentar o gosto por adquirir conhecimento, promover o desenvolvimento de habilidades socioemocionais como criatividade, liderança, solidariedade, autoestima, autoconhecimento, respeito, colaboração etc, através de projetos makers e de práticas pedagógicas inovadoras. Um Colégio só consegue fazer isso com turmas reduzidas, pois com muitos alunos, em uma sala ou no colégio, se perde a individualidade do aluno.

Revista Urbanova: E dos pais? Quais são os maiores erros dos pais nessa fase?

André Guadalupe: Na minha visão o melhor caminho é a confiança e do diálogo aberto entre os pais e os filhos. Ninguém quer mais bem para seus filhos que seus pais. Acredito que firmeza nos propósitos e suavidade na forma seja uma boa receita. Os jovens gostam de limites e quem coloca estes limites são os pais, em primeiro lugar, e o colégio em segundo lugar. Regras claras são muito importantes para o desenvolvimento saudável dos jovens.

Revista Urbanova: É possível aplicar modelos pedagógicos da Educação Infantil ao Ensino Médio?

André Guadalupe: Visitei nos dois últimos anos escolas de Educação Infantil em Helsinque e Tóquio, sem falar em diversas boas escolas em diversas regiões do Brasil. O aluno da educação infantil adora ir para a escola, fazer descobertas e colocar a mão na massa construindo seus desenhos e projetos e, a medida que vai progredindo pela educação básica, chega no ensino médio sem o prazer de ir para a escola, pois tudo fica chato pois tem que ser aprendido com a justificativa única e limitada de que “cai no vestibular”. O que devemos trazer da Educação Infantil para o Ensino Médio é o gosto pelo aprender, a satisfação por desenvolver projetos e soluções e o enorme prazer em trabalhar em coletividade de forma colaborativa. Isso é absolutamente possível.

Revista Urbanova: Em 2017 o senhor e seus sócios, inauguraram em São José dos Campos o Colégio Planck que tem exatamente essa nova visão educacional. Quais são os principais eixos do colégio?

André Guadalupe: O Colégio Planck é fruto de 25 anos de estudo, observação e experiência. Acreditamos que cada aluno é único e que cada aluno pode ser o que quiser. Comemoramos cada sonho e cada conquista de nossos alunos. O Colégio Planck é baseado em três pilares: SABER que é o acadêmico, o SABER SER que são as habilidades socioemocionais e o SABER FAZER que é o protagonismo maker do aluno. No nosso colégio valorizamos as múltiplas inteligências sem abrir mão da profundidade do aprendizado. Acreditamos que não existe conflito entre o rigor acadêmico, aprendizagem, e a formação humana.

Revista Urbanova: Neste cenário como o aluno pode contribuir com a escola e com os colegas?

André Guadalupe: A contribuição do aluno é fundamental, o colégio existe para eles e por eles. Um processo de aprendizagem moderno exige trabalho colaborativo e criativo. O mercado de trabalho hoje busca, de acordo com uma pesquisa recente publicada na revista “The Economist” pessoas criativas, que saibam trabalhar em grupo e resolver problemas inéditos. Pois bem, se a Escola não trabalhar neste sentido na formação de seus alunos, ela não estará cumprindo boa parte de seu papel, e é esta reflexão que buscamos promover com os alunos e professores no dia-a-dia e temos ficado muito felizes com os resultados alcançados.

Prof. André Guadalupe é diretor do Colégio Planck , em São José dos Campos

 

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